sábado, 22 de novembro de 2008

Igreja em 2000 - Joseph Ratzinger

Será uma Igreja interiorizada, que não reclamará o seu mandato político e não cortejará nem à esquerda, nem à direita.

Não terá uma vida fácil. Porque este processo de cristalização e clarificação custar-lhe-á alguns bons colaboradores. Torná-la-á pobre e fará dela uma Igreja dos pequeninos. O processo será tanto mais difícil por a Igreja ter de eliminar tanto a tacanhez sectária como a bravata daqueles que só querem fazer a sua vontade. É de prever que tudo isto precise de tempo.

O processo será longo e penoso, tal como foi muito extenso o caminho que levou dos falsos progressismos nas vésperas da Revolução Francesa (em que era chique, mesmo para os bispos, fazer troça dos dogmas e talvez mesmo dar a entender que de modo nenhum se tomava por certa a própria existência de Deus) até à renovação do século XIX.

Mas, depois da provação dessas divisões, uma força pujante brotará de uma Igreja interiorizada e simplificada. Porque os homens de um mundo totalmente planificado se sentirão indizivelmente solitários. Quando Deus tiver desaparecido inteiramente, aí é que experimentarão a sua total pobreza.

E descobrirão então a pequena comunidade de crentes como qualquer coisa de inteiramente novo. Como uma esperança que lhes diz respeito, como uma resposta por que secretamente sempre tinham esperado. Por isso, parece-me certo que se preparam tempos muito difíceis para a Igreja.

A autêntica crise mal começou. Deve-se contar com grandes abalos. Mas estou também seguro de que, por fim, permanecerá não a Igreja do culto político, mas sim a Igreja da fé. Ela não será com certeza a força dominante da sociedade, como foi recentemente. Mas florescerá de novo e tornar-se-á para os homens a pátria que lhes dará vida e esperança para lá da morte.

"Que aspecto será o da Igreja no Ano 2000?" - P. Joseph Ratzinger
Conferência radiofónica
Emissora Radiofónica de Hessis
Natal de 1969

Sem comentários: